Perspectivas Filosóficas em Informação

Marcos Dantas e Marco Schneider participam de livro sobre o pensamento de Álvaro Vieira Pinto

Pesquisadores assinam capítulo com notas introdutórias ao Materialismo Dialético do filósofo e intelectual brasileiro

 

O livro Críticas ao Vale de Lágrimas: reflexões sobre Álvaro Vieira Pinto, recém-publicado pela Editora da Universidade Estadual da Paraíba (Eduepb), reúne escritos de pesquisadores de diferentes matrizes teóricas sobre Álvaro Vieira Pinto, médico, filósofo e intelectual brasileiro reconhecido pela crítica permanente ao subdesenvolvimento e pela defesa ao desenvolvimento autônomo do Brasil. Entre os convidados para a coletânea, estão os professores Marcos Dantas e Marco Schneider, que assinam o capítulo Notas Introdutórias ao Materialismo Dialético de Álvaro Vieira Pinto, a partir de um fecundo debate, em meados do século XX, sobre ciência, tecnologia e sociedade.

Perseguido pela Ditadura Militar, grande parte do pensamento de Vieira Pinto só veio a público após o seu falecimento, em 1987, devido ao caráter materialista e dialético de suas reflexões. E foi esse mesmo direcionamento teórico que inspirou Dantas e Schneider, ambos professores do Programa de Pós-graduação em Ciência da Informação do Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia em cooperação com a Universidade Federal do Rio de Janeiro (PPGCI Ibict/UFRJ), a escreverem sobre a contribuição do autor para as pesquisas na área.

“Para o Brasil, conhecer o pensamento de Vieira Pinto é fundamental, inclusive, para muitas discussões contemporâneas. Existem aspectos atualíssimos na sua obra. E um dos mais importantes é a abordagem que ele nos traz do materialismo dialético. Ele trabalha com um conjunto de conceitos que propõe um materialismo dialético diferente daquele que estamos habituados a ver nos manuais”, destaca Marcos Dantas.

De acordo com o pesquisador, apesar de Vieira Pinto não explicitar suas referências, é possível estabelecer a forte relação da sua obra com os pensamentos de Hegel, Marx e Lukács. “É muito difícil, ao ler Vieira Pinto, saber quem são suas fontes, porque ele nunca faz citações, mas é muito perceptível a relação com esses autores. Então, a contribuição para o trabalho publicado neste livro é recuperar algumas categorias do materialismo histórico-dialético, como totalidade, mediação e ação recíproca, que nos dão uma outra forma de aplicar o materialismo dialético na nossa realidade atual”, explica Dantas.

Embora a dialética seja uma característica marcante na obra de Vieira Pinto, poucos pesquisadores conseguem aprofundar a discussão sobre essa influência no trabalho do autor. No livro Críticas ao Vale de Lágrimas: reflexões sobre Álvaro Vieira Pinto, por exemplo, apenas Dantas e Schneider abordam o assunto – mas o fazem com a clareza de anos dedicados aos estudos sobre a dialética hegeliana, pilar fundamental para a construção do pensamento do filósofo brasileiro.

“A vulgata marxista minimiza a influência da dialética hegeliana em Marx e não a compreende em seus próprios termos. Isso se deve, em parte, àquela imagem de Marx, de que a dialética de Hegel estaria de cabeça para baixo e ele a teria posto de pé. Ora, isso é uma observação geral em um prefácio do Capital, que não faz justiça a Hegel. Somente serve de introdução a uma possível crítica que Marx não chegou a desenvolver, a não ser em anotações pessoais, rascunhos. Então, a minha contribuição ao artigo é nesse sentido, de destacar o caráter não primeiramente metodológico, mas ontológico da dialética hegeliana. E é bom não confundir o idealismo alemão, enquanto corrente filosófica, com o sentido comum de idealismo, em oposição a materialismo. A coisa é mais complicada, especialmente em Hegel, cujo idealismo é objetivo, da ordem da imanência, da história”, salienta Marco Schneider.

Contribuições para a Ciência da Informação

Escrito em 1973 e publicado em 2005, o livro O Conceito de Tecnologia representa uma das principais contribuições de Álvaro Vieira Pinto para a Ciência da Informação (CI). No segundo volume da obra, dedicado à Cibernética e à Teoria da Informação, esse diálogo torna-se ainda mais contundente.

“De uma forma muito original, ele propõe uma dialética da informação e da cibernética. Ao fazer isso, Vieira Pinto supera o que, para mim, sempre foi o grande problema da Ciência da Informação: não definir informação, trabalhar com ‘n’ conceitos, de acordo com cada pedaço no qual a informação aparece. Vieira Pinto coloca o conceito de informação dentro de uma totalidade. Ele dá um conceito muito claro, dialético, objetivo, que envolve todos os micro-conceitos com os quais a CI gosta de trabalhar – conceitos formais, da aparência da informação –, enquanto ele coloca um conceito de que a informação é da essência do mundo, da vida, da existência do ser humano. Portanto, não há ser humano sem informação e não há informação sem ser humano”, esclarece Marcos Dantas.

Sobre o livro

Críticas ao Vale de Lágrimas: reflexões sobre Álvaro Vieira Pinto é um livro organizado pelo professor Dauto João da Silveira, do Programa de Pós-graduação em Tecnologia e Sociedade da Universidade Tecnológica Federal do Paraná (PPGTE/UTFPR), e publicado pela Eduepb. A obra trata-se de uma contribuição às reflexões sobre o autor, a partir do olhar de diferentes pesquisadores, com ênfase em temáticas diversas, como: revolução; democracia; materialismo dialético; justiça; Economia Política da Ciência, Tecnologia e Inovação; concepção de homem, cultura, educação e trabalho; e direito autoral.

O livro encontra-se disponível, para download gratuito, aqui.