Pesquisador foi um dos palestrantes do 4º Colóquio Internacional “Pátria”, sediado em Havana
Entre os dias 17 e 19 de março, a Universidad de Havana, em Cuba, sediou a 4ª edição do Colóquio Internacional “Pátria”, com a presença de 400 convidados, oriundos de 47 países. O evento reuniu pesquisadores, líderes populares e ativistas em prol da Nova Ordem Mundial da Informação e da Comunicação, com o objetivo de debater e impulsionar uma agenda democrática para o uso da Inteligência Artificial. A programação contou com a palestra “Excedente Cultural e não contemporaneidade”, ministrada pelo pesquisador brasileiro Marco Schneider, coordenador da Rede Nacional de Combate à Desinformação (RNCD), titular do Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia (Ibict) e líder do Grupo de Pesquisa Perspectivas Filosóficas em Informação (Perfil-i).
Durante três dias, o evento – organizado, anualmente, pela União dos Jornalistas de Cuba – propôs uma discussão para além do diagnóstico, de modo que pudessem ser apresentadas críticas e soluções coletivas em torno de diferentes temáticas, como estratégias de comunicação, combate a fake news e desafios globais da guerra midiática e cognitiva. Nessa perspectiva, o painel Reprogramando as redes: estratégias para neutralizar a polarização e o discurso de ódio reuniu pesquisadores baseados em países distintos: José Manzaneda, da Espanha; Hindu Anderi, da Venezuela; e Marco Schneider, do Brasil, que já acumula um histórico de discussões internacionais sobre Integridade da Informação, como ex-presidente e atual diretor executivo do International Center for Information Ethics (Icie).
“Em teoria, existem duas formas de neutralizar a polarização e o discurso de ódio nas redes sociais: regulação econômica e moderação de conteúdos das plataformas digitais, com o objetivo de construir soberanias digitais nacionais e populares, e políticas públicas em grande escala, para a Alfabetização Midiática e Informacional Crítica”, destacou Schneider, de forma direta.
Mas foi sobre a segunda estratégia que o pesquisador debruçou seu discurso, diante do público cubano. Segundo ele, em termos gerais, a Alfabetização Midiática e Informacional, no sentido básico, se refere à habilidade no uso de ferramentas tecnológicas, com um sentido meramente operacional – o que sugere uma lacuna do ponto de vista crítico.
“O elemento crítico se refere ao conhecimento das lutas de poder que permeiam as mediações tecnológicas e retóricas dos conteúdos que circulam nas redes digitais. Na minha opinião, essas lutas são, no fundo, entre capital e trabalho, assim como entre capitais, e tem dimensões locais, regionais, nacionais e internacionais”, avaliou Schneider.
Para essa reflexão, o cientista recuperou o pensamento de Ernst Bloch. Isso porque, para ele, dizer que o problema se trata, em última instância de disputas entre capital e trabalho não permite ignorar o elemento ideológico que reflete tais conflitos.
“Qual seria a contribuição de Bloch para compreender isso e intervir nas disputas ideológicas atuais? Sua concepção do excedente cultural, para designar aquilo que no complexo ideológico escapa à função primária de toda ideologia dominante nas sociedades de classe, que é legitimar a dominação”, explicou o pesquisador brasileiro.
Segundo ele, a ideologia será mais ou menos puramente mistificadora, a depender de como a classe se encontra: em um momento ascendente-revolucionário, dominante-hegemônico ou decadente. Essa concepção joga luz sobre o outra reflexão levantada por Bloch: a não contemporaneidade. “Na decadente, a ideologia dominante é quase pura mistificação de massas. Mas essa mistificação tem certas sutilezas, que nos levam ao conceito blochiano de não contemporaneidade”, pontuou.
De acordo com Schneider, a ideia se assemelha à Teoria sobre o Desenvolvimento Econômico Desigual e Combinado, de Trotsky.
“Modos e relações de produção originários de distintas épocas, com suas respectivas forças produtivas, coexistem no mesmo tempo e espaço que o capitalismo moderno. Portanto, nem todas as nações necessitarão seguir o mesmo caminho em sua história econômica e social. E podem existir empréstimos, apropriações e saltos; modos de vida; visões de mundo; temores; e desejos de distintas épocas, coexistindo no mesmo momento histórico, em distintos estratos sociais. Essa compreensão, vinculada à noção de excedente cultural, é essencial para uma compreensão adequada das disputas ideológicas contemporâneas, que incluem a polarização e o discurso de ódio”, reforça Schneider.
Sobre o Colóquio Internacional Pátria
O evento é convocado, anualmente, pela União dos Jornalistas de Cuba, em Havana, com enfoque na defesa da Revolução Cubana e dos valores do Socialismo. Para isso, adota o nome "Pátria", em referência ao jornal homônimo, fundado por José Martí, em 1892, como uma ferramenta de luta pela independência do país e símbolo do compromisso com a verdade e a justiça. Em 2025, o colóquio abordou quatro temas: batalha comunicacional e midiática; defesa da soberania; intercâmbio internacional; e uso de tecnologia.
Saiba mais, aqui.