Ana Regina Rêgo e Maria H. Weber alertam sobre uso de Inteligência Artificial na produção de desinformação e impacto na democracia
Foto: Sáshenka Gutiérrez/EFE
Em artigo publicado nesta sexta-feira (21), no portal The Conversation – site internacional de notícias e análises baseadas em pesquisas científicas –, as pesquisadoras Ana Regina Rêgo, fundadora da Rede Nacional de Combate à Desinformação (RNCD) e coordenadora do Programa de Pós-graduação em Comunicação da Universidade Federal do Piauí (PPGCOM/UFPI), e Maria Helena Weber, docente do Programa de Pós-graduação em Comunicação da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (PPGCOM/UFRGS) e coordenadora do Núcleo de Comunicação Pública e Política (Nucop), declaram que desinformação gerada por Inteligência Artificial (IA) já é uma inimiga da democracia na era digital.
No texto, as pesquisadoras mencionam os dois últimos Relatórios de Riscos Globais (2024-2025), publicados pelo Fórum Econômico Mundial, que apontam a desinformação como um grande risco para a Humanidade, a curto e médio prazos. Sobretudo, diante do processo de plataformização da vida e do encontro de interesses das grandes corporações de tecnologia, as big techs, com o mercado de produção de conteúdos. Nesse contexto, outros desafios também se apresentam, com impactos geopolíticos, cada vez mais, preocupantes.
"O unilateralismo e a exacerbação das ações de segurança nacional nas agendas políticas dos países, especialmente os EUA, são mencionados pelos entrevistados no Global Risks Report 2025 como provocadores de repercussões negativas em todo o mundo. Tais condutas podem impactar na redução da transparência, tal como acontece em regimes autoritários. E, como enfatiza o relatório, tais medidas podem contribuir para a consolidação de regimes autoritários e para a regressão dos regimes democráticos", ressaltam Ana Regina e Maria Helena.
De acordo com as pesquisadoras, o cenário torna-se ainda mais preocupante diante do aperfeiçoamento das técnicas de IA, utilizadas de forma sistemática a serviço de campanhas de desinformação.
"Quando relacionamos campanhas de fake news com o uso de tecnologias disruptivas como a Inteligência Artificial, é preciso ter em mente que não há mais amadorismo nesse setor. O mercado da desinformação hoje já possui uma 'cadeia produtiva' que abrange desde a criação das mentiras até a execução das estratégias de distribuição de conteúdo", alertam.
Para exemplificar esse processo, Ana Regina Rêgo e Maria Helena Weber expuseram casos recentes, envolvendo as eleições de dois países: a Índia e o México.
"De acordo com o Relatório 'Inteligência Artificial no mundo', do projeto brasileiro 'Mídia e Democracia', da Fundação Getúlio Vargas, no ano passado, na Índia, um país com quase 1 bilhão de eleitores e onde só 46% da população têm acesso à internet, ferramentas de IA foram usadas recentemente para fabricar vídeos deepfake com imagens de políticos já mortos. Essas montagens foram levadas para praças públicas durante comícios eleitorais, para interferir na opinião pública e direcionar votos. Segundo o mesmo relatório, o México – que possui em torno de 100 milhões de eleitores e 24% da população sem acesso à internet – também foi submetido a montagens com deepfakes que circularam em grande velocidade. Durante a campanha eleitoral do ano passado, a atual presidenta Claudia Sheinbaum foi apresentada nas mídias de seu principal adversário como uma 'comunista'", destacam.
No artigo, as autoras apontam para a deterioração dos regimes democráticas, diante da ascensão da IA associada à desordem informaiconal, e a consequente autocratização crescente do mundo. Além disso, as pesquisadoras também refletem sobre a interdependência entre política, capital e tecnologia.
Leia o texto publicado pelo The Conversation, na íntegra, aqui.