Publicação considera o Relatório Global de Riscos do Fórum Econômico Mundial, que aponta desinformação como a maior ameaça do ano
Imagem: Reprodução/Unplash
Em artigo publicado nesta quinta-feira (6), no The Conversation – veículo de notícias presente em mais de 10 países e baseado em evidências científicas –, pesquisadores da Rede Nacional de Combate à Desinformação (RNCD) e do grupo de pesquisa Perspectivas Filosóficas em Informação (Perfil-i) analisam os impactos da desordem informacional, considerada a maior ameaça para 2025, segundo o Relatório Global de Riscos do Fórum Econômico Mundial, divulgado no dia 15 de janeiro. A publicação "A desinformação é considerada o maior risco para a Humanidade em 2025. O que fazer para combatê-la?" é assinada por Marco Schneider, coordenador da RNCD; Myllena Diniz, doutoranda em Ciência da Informação pelo Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia (Ibict); e Taís Seibt, líder do Núcleo de Estudos em Jornalismo de Dados e Computacional (DataJor).
No relatório anual, o Fórum Econômico apresentou o ranking dos principais desafios a serem enfrentados pelo mundo, nos planos econômico, ambiental, geopolítico, social e tecnológico. Nele, a desinformação é apontada como o maior perigo para a Humanidade a curto prazo. O resultado foi obtido a partir de levantamentos coletados em 2024 pela organização, por meio da pesquisa Global Risks Perception Survey (GRPS), que ouviu mais de 900 líderes internacionais dos setores empresarial, governamental e científico, além da sociedade civil.
De acordo com o documento, a difusão de informações falsas, enganosas ou retiradas de contexto, com ou sem intenção de prejudicar alguém, lidera um conjunto de 33 riscos a curto prazo – o que corresponde aos próximos dois anos. Como número um da lista de problemáticas imediatas, a desordem informacional desbanca ameaças como eventos climáticos extremos, conflitos armados entre países, polarização social, cyber espionagem e poluição. A longo prazo, numa projeção para os próximos 10 anos, ela ocupará a 5ª posição.
O relatório também destaca que desinformação e polarização social reforçam-se, mutuamente, ocupando a 4ª e a 5ª colocação, respectivamente, no panorama geral – ou seja, quando leva-se em consideração o grau de ameaça a curto e longo prazos. Essa simbiose entre os dois fenômenos é explicada pelos pesquisadores:
"Há vários anos, as plataformas digitais se converteram na principal fonte de informação da maioria dos indivíduos, em todo o mundo, como evidenciam os levantamentos de 2023 e 2024 do Digital News Report, do Institute Reuters de Estudos de Jornalismo, baseado em Oxford (Inglaterra). E, na atual lógica do modelo de plataformização do mercado e das relações interpessoais, quanto mais um usuário se alinha a determinados tipos de conteúdos, mais o algoritmo recomenda outros similares, o que o conduz às chamadas 'câmaras de eco', nas quais ideias, crenças e informações são reforçadas, amplificadas. Assim, criam-se consensos dentro de uma 'bolha', que não reverberam em outra; ao contrário, as afasta, cada vez mais, e polariza", avaliam.
Segundo os pesquisadores, esse mesmo modelo é um terreno fértil para a propagação da desordem informacional, haja vista que indivíduos imersos em bolhas tornam-se menos expostos ao contraditório, ao diferente. "O problema tem um agravante: frequentemente, os polos são fortalecidos por práticas e estratégias de desinformação – no sentido amplo, a partir de conteúdos que 'poluem' o ecossistema, de diferentes formas. Nesse sentido, consideram-se conteúdos retirados de contexto; teorias conspiratórias; narrativas distorcidas ou totalmente inventadas; opinião disfarçada de notícia; discursos de ódio; cancelamentos; e linchamentos virtuais", detalham.
No entanto, apesar de sinalizarem que o cenário possibilita uma série de discursos que potencializam a dicotomia "nós versus eles", a ponto de contaminar a opinião pública, os pesquisadores consideram que, no contexto atual, a ideia de "polarização" é controversa. Isso porque o que se evidencia é a ascensão de apenas um bloco, a extrema direita, por meio da qual a desinformação digital em rede tornou-se uma prática deliberada e sistemática, com estratégias que exploram o medo e estimulam o ódio, inventando inimigos perigosos que precisam ser combatidos.
"Nos últimos anos, a desordem informacional tem sido um recurso amplamente utilizado no xadrez da geopolítica para mobilizar eleitores, em todo o mundo, sendo mais suscetível a grupos radicais. Nesse cenário, nota-se uma particularidade: evidências científicas revelam que a desinformação é uma marca da extrema direita, algumas vezes com características explicitamente fascistas, ou mesmo nazistas", explicam.
No texto, os pesquisadores apresentam pesquisas científicas que evidenciam a ação coordenada da extrema direita para a propagação de desinformação, a exemplo dos estudos desenvolvidos pelo Cybersecurity for Democracy, da New York University (NYU), que revelam que as fontes de notícia com esse viés não só são mais envolventes para seu público, atraindo-o para suas publicações, como engajam 65% mais, ao publicarem conteúdos falsos.
Ao longo da publicação, os especialistas também analisam a crescente desconfiança dos indivíduos em torno dos meios de comunicação tradicionais, reforçam a importância do rigor jornalístico para a produção e a mediação da informação, e defendem a regulação democrática das plataformas digitais. Além disso, enaltecem as ações de Educação Midiática e Informacional no combate à desinformação.
O artigo encontra-se disponível, na íntegra e gratuitamente, aqui.