A noção de infodemia sugere a propagação em larga escala de informação daninha, que direta ou indiretamente faz mal à saúde física e mental de quem a consome, na escala de populações inteiras. Refere-se, portanto, a modulações contemporâneas gargantuescas de antigos fenômenos desinformacionais, como calúnia, difamação, alienação, mistificação, engodo, trapaça. O próprio termo já é uma denúncia ética.
Numa primeira mirada, a novidade da noção reside na velocidade, alcance e capilaridade das práticas infodêmicas em curso, possibilitadas pelo desenvolvimento das tecnologias de informação e comunicação nas últimas décadas, aliado à estratégia neoliberal de manipulação e controle de dados via softwares. Tem-se aí um debate via filosofia da técnica. Uma segunda mirada, contudo, chama a atenção para a dimensão não apenas ética e técnica, mas econômica e política dessas mediações sociotécnicas, inclusive com implicações geopolíticas e ecológicas de alcance global, dado o acúmulo de revelações alarmantes sobre seus usos em disputas decisivas de poder ao redor do mundo. São disputas corporativas, políticas ou ambas as coisas conjugadas.
A noção de infodemia, não obstante, ainda não granjeou o status de um conceito acadêmico, do mesmo modo que noções avizinhadas, como pós-verdade e fake news. Talvez, no futuro, se futuro houver, seja(m) lembrada(s) como um modismo, que fez sucesso na época e só. Ou, pelo contrário, se consagre(m) como conceito(s) explicativo(s) de um conjunto de fenômenos cujo ineditismo e singularidade não são superficiais.
Com base nas considerações precedentes, este dossiê da Liinc em Revista convida pesquisadores da Ciência da Informação e áreas afins a apresentarem resultados de pesquisa teórica e aplicada sobre os tópicos a seguir:
Epidemia informacional
Desinformação no espectro político das bolhas digitais
Dialética da inteligência artificial
Anticiência
Pseudo autoridades cognitivas
Agnotologia
Construção corporativa da desinformação
Mímese e credibilidade
Ódio e teratologia digital
Metadados e vigilância
Algoritmos racistas
Saúde e redes
Intimidade, privacidade e liberdade civil
Vulnerabilidade digital
Cibernética e psicanálise
Obscurantismo
Negacionismo
Epistemicídios infodêmicos
Diretrizes para submissão
Aceitam-se artigos originais em português, espanhol e inglês. A revisão ortográfica e a padronização de citações e referências de acordo com a ISO 690 é de responsabilidade dos/as autores/as. Artigos de não nativos na língua escolhida deverão comprovar revisão por tradutor/a profissional.
Nos artigos, o/a primeiro/a autor/a deverá ter preferencialmente titulação acadêmica de Doutor/a e não poderá ter titulação inferior à de Mestre.
Não serão aceitas submissões fora do escopo do dossiê e fora das normas da Revista.
Demais regras para submissão encontram-se em http://liinc.revista.ibict.br/index.php/liinc/about/submissions#authorGuidelines
Prazo de submissão: ATÉ 31 DE MARÇO DE 2021 (SEM PRORROGAÇÃO), pelo endereço http://revista.ibict.br/liinc/
A Liinc em Revista está adotando a publicação em fluxo contínuo, publicando os textos, à medida que estejam aprovados e formatados para publicação.