Perspectivas Filosóficas em Informação

"Desinformação é especialmente prejudicial às maiorias minorizadas", destaca Myllena Diniz ao Portal Eufemea

Pesquisadora avalia como o fim da checagem de fatos pela Meta pode afetar mulheres e grupos vulneráveis

Imagem: Portal Eufemea (Reprodução)

Nesta terça-feira (21), em entrevista concedida ao Eufemea, portal alagoano de conteúdo feminino dedicado à igualdade de gênero, a jornalista Myllena Diniz destacou os impactos do fim da checagem dos fatos pela Meta para as mulheres e os grupos mais vulneráveis. Doutoranda no Programa de Pós-graduação em Ciência da Informação do Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia e da Universidade Federal de Alagoas (PPGCI Ibict/UFRJ) e membro do Grupo de Pesquisa Perspectivas Filosóficas em Informação (Perfil-i), a pesquisadora tem debruçado seus estudos sobre o fenômeno da desordem informacional e as consequências psicossociais do novo regime de informação imposto pelas big techs, pautado na plataformização, no capitalismo de vigilância e na lucrativa disseminação de desinformação.

Quando questionada sobre os impactos mais visíveis da desinformação para a Saúde Mental das mulheres, Myllena Diniz destacou que já existe um consenso claro entre os pesquisadores da área: a desinformação é especialmente prejudicial para as maiorias minorizadas, como as mulheres, a comunidade LGBTQIAPN+ e a população negra. A pesquisadora considera que o ambiente virtual, apesar dos avanços que possibilitou para a comunicação, continua a reproduzir antigas práticas hegemônicas, que reforçam preconceitos, bem como excluem e invisibilizam pessoas e culturas, em todo o mundo.

Além disso, na maioria das vezes, esses recursos fazem uso de estratégias baseadas em discursos de ódio, assédio, ataques e mentiras, que resultam em sérios danos psicossociais. No caso caso das mulheres, que, historicamente, enfrentam uma cultura de assédio, estigmatização e objetificação dos seus corpos, o problema torna-se ainda maior, já que esse público encontra-se mais suscetível a ser alvo de conteúdos sexuais, cyberbullying deep fakes, com destaque para os deep nudes – vídeos falsos com conteúdos pornográficos que simulam a realidade, com métodos, cada vez mais, refinados.

"Ansiedade, medo, fuga, desvalorização da autoimagem, busca excessiva pelos 'padrões' de beleza instituídos pelo modelo capitalista, depressão, transtornos alimentares, estigmatização e até mesmo conflitos interpessoais, decorrentes do estresse relacional causado pelas controvérsias da desinformação entre familiares e amigos", são algumas das consequências psicossociais destacadas pela pesquisadora.

Na entrevista, Myllena Diniz também critica o uso equivocado que Mark Zuckerberg fez do conceito de liberdade de expressão para justificar o fim da checagem dos fatos pela Meta. Para ela, a liberdade de expressão deve estar intrinsecamente alinhada à garantia da dignidade humana.

"A remoção dessas diretrizes, ao contrário do que alega a Meta, não tem relação com a ampliação da livre manifestação do pensamento. A liberdade de expressão, por natureza, deve servir à promoção da dignidade humana, e não a narrativas que fomentam discursos de ódio, xingamentos, mentiras e ataques", ressalta.

A pesquisadora também defende a urgência da regulação das plataformas e considera perigoso o fim da checagem dos fatos, bem como a remoção da proibição dos termos "objetos decorativos" e "isso" em referência a mulheres e pessoas trans, respectivamente. "Ao fazer isso, a Meta possibilita a produção de discursos que afastam esses grupos da sua condição mais básica: a humana", salienta.

Além de Myllena Diniz, também foram entrevistadas Marta Alencar, doutoranda em Comunicação e especialista em checagem de fatos, e Nathália Peixoto, advogada, especialista em Direito Digital e consultora em Proteção de Dados. Para conferir a matéria completa de Eufemea, acesse aqui.